quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Resumo sobre Reforma Protestante -2011 6ª Série


Resumo sobre Reforma Protestante



Reforma Protestante

1. Conceito
* A Reforma Protestante foi um movimento cristão iniciado no século XVI, na Alemanha, que protestava contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. 


2
. Antecedentes
* A força e o prestígio da Igreja Católica ficaram abalados, no século XVI, com as transformações econômicas e culturais na Europa. 
* Até o final da Idade Média, a grande maioria dos cristãos permaneceu unida em torno da autoridade do papa, chefe máximo da Igreja Católica. 
* No início da Idade Moderna, porém, alguns cristãos passaram a protestar contra o que consideravam abusos da autoridade papal. 
* Alguns destes cristãos deixaram de obedecer ao papa e separaram-se da Igreja de Roma. 
* Foram várias as causas que originaram a Reforma, a maioria relacionada com as condições gerais da Europa no século XVI. 

3
. Causas 
* O luxo da Igreja, pois, enquanto pregavam a pobreza e a simplicidade, os papas e bispos vivam rodeados de escritores e artistas, imersos em grande quantidade de riquezas. 
* A condenação da usura (empréstimo a juros) e a noção de que o lucro era pecado, ideias que prejudicavam especialmente a burguesia, que estava em ascensão. 
* O aumento do poder dos reis, que não viam com bons olhos a influência do papa interferindo nas questões locais. Além disso, alguns reis queriam se apoderar das terras da Igreja. 
* A influência do Renascimento Cultural, que espalhou pela Europa uma nova maneira de pensar, caracterizada pelo individualismo e pelo espírito crítico. 
* A simonia, ou seja, a venda de relíquias sagradas e cargos eclesiásticos, que transformava muitas práticas religiosas em comércio. 
* A invenção da prensa móvel por Gutenberg, que possibilitou a divulgação e cópia muito mais rápida de livros. Também possibilitou que a Bíblia fosse traduzida nas línguas locais. 
* A venda de indulgências, ou seja, de perdões. De acordo com esta doutrina, as pessoas obtinham o perdão dos seus pecados mediante pagamento. 
* O conjunto destes fatores impulsionaram as críticas contra as doutrinas católicas, que levaram a instauração da Reforma Luterana, Calvinista e Anglicana. 

4. 
Reforma Luterana
* A Reforma Luterana foi iniciada por Martinho Lutero, na Alemanha. Tudo começou quando, para propiciar a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, o papa Leão X ordenou a venda de indulgências. 
* Em 1517, o monge Martinho Lutero se desentendeu com o dominicano Tetzel, que vendia indulgências em nome do papa. Isto porque Lutero se recusava a apoiar a absolvição dos pecados mediante pagamento. 
* Ao ser ameaçado por Tetzel, Lutero reagiu, afixando na porta da Igreja de Wittenberg as 95 Teses, documento que condenava a venda de indulgências, entre outras práticas e doutrinas da Igreja. 
* A disputa entre Lutero e a Igreja se prolongou até 1520, quando o papa o excomungou. Lutero queimou publicamente o documento de excomunhão e passou a difundir sua doutrina. 
* Assim, surgiu o luteranismo, doutrina que ganhou adeptos em várias regiões da Europa, principalmente na Alemanha, Suécia, Dinamarca e Noruega. 

5
. Reforma Calvinista
* A Reforma Calvinista foi iniciada por João Calvino, na Suíça. Nascido na França, Calvino teve que fugir para este país, em 1536, para defender as idéias mais radicais de Lutero. 
* Na Suíça, Calvino passou a dar destaque à ideia da predestinação, segundo a qual o trabalho e a prosperidade alcançada por meio dele são sinais de benção divina e salvação da alma. 
* Vale ressaltar que a formação do sistema capitalista foi muito estimulado pelos valores do calvinismo, que encorajava o trabalho e o lucro e condenava os prazeres e os gastos. 
* Por corresponder aos interesses da burguesia, o calvinismo se expandiu para os países onde o comércio era mais desenvolvido. 
* Na França, os calvinistas eram chamados de huguenotes; na Inglaterra, de puritanos; na Escócia, de presbiterianos; na Holanda, fundaram a Igreja Reformada. 

6
. Reforma Anglicana
* A Reforma Anglicana foi iniciada por Henrique VIII, na Inglaterra. Henrique VIII havia solicitado ao papa a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, para casar-se com Ana Bolena. 
* Diante da recusa do papa – e usando isso como pretexto –, o rei ordenou que seu casamento fosse anulado por um tribunal eclesiástico inglês. 
* Além disso, o rei fez com que o Parlamento lhe outorgasse o título de chefe supremo da Igreja da Inglaterra. Assim, em 1534, nascia o anglicanismo. 
* A Igreja da Inglaterra separou-se de Roma, mas conservou boa parte da doutrina católica. 
* Os puritanos (calvinistas ingleses) entraram em choque com os anglicanos, gerando inúmeros conflitos. No século XVII, estes conflitos levaram às emigrações em massa para regiões da América do Norte. 

7
. Noite de São Bartolomeu
* A Reforma deu origem a conflitos religiosos entre católicos, que queriam manter seu poder, e os protestantes, que pretendiam aumentar sua influência. 
* Um destes conflitos ocorreu na França, em 1572, e foi denominado Noite de São Bartolomeu . 
* Na ocasião, mais de 30 mil protestantes foram assassinados por católicos. 

8
. Contra-Reforma
* A Contra-Reforma foi uma reação da Igreja Católica à Reforma Protestante. 
* As principais iniciativas da Contra-Reforma foram a convocação do Concílio de Trento, a criação da Companhia de Jesus e o aumento das atividades do Tribunal da Inquisição. 
* O Concílio de Trento condenava a doutrina protestante, aconselhava a formação dos sacerdotes em seminários e instituiu uma lista de livros proibidos – o Index. 
* O Tribunal da Inquisição foi um instrumento de terror e obscurantismo utilizado pela Igreja Católica contra todos que divergiam de sua doutrina – os hereges. As práticas envolviam interrogatórios, tortura e morte. Agiu com maior intensidade em Portugal e Espanha. 
* A Companhia de Jesus foi uma ordem religiosa criada por Inácio de Loyola, na Espanha. Sob rígida disciplina, os chamados jesuítas combatiam as idéias protestantes e dedicaram-se a conversão de diferentes povos ao cristianismo. 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A VINDA DA FAMÍLIA REAL PARA O BRASIL




Em janeiro de 1808, Portugal estava preste a ser invadido pelas tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte. Sem condições militares para enfrentar os franceses, o príncipe regente de Portugal, D. João, resolveu transferir a corte portuguesa para sua mais importante colônia, o Brasil. Contou, neste empreendimento, com a ajuda dos aliados ingleses.
Chegada da família real ao Brasil 

Nos quatorze navios, além da família real, vieram centenas de funcionários, 
criados, assessores e pessoas ligadas à corte portuguesa. Trouxeram também muito dinheiro, obras de arte, documentos, livros, bens pessoais e outros objetos de valor.     

Após uma forte tempestade, alguns navios foram parar em Salvador e outros na cidade do Rio de Janeiro. Em março de 1808, a corte portuguesa foi instalada no Rio de Janeiro. Muitos moradores, sob ordem de D. João, foram despejados para que os imóveis fossem usados pelos funcionários do governo. Este fato gerou, num primeiro momento, muita insatisfação e transtorno na população da capital brasileira.

No ano de 1818, a mãe de D. João, D. Maria I, faleceu e D. João tornou-se rei. Passou a ser chamado de D. João VI, rei do Reino Unido a Portugal e Algarves. 
Abertura dos portos às nações amigas

Uma das principais medidas tomadas por D. João foi abrir o comércio brasileiro aos países amigos de Portugal. A principal beneficiada com a medida foi à Inglaterra, que passou a ter vantagens comerciais e dominar o comércio com o Brasil. Os produtos ingleses chegavam ao Brasil com impostos de 15%, enquanto de outros países deveriam pagar 24%. Este privilégio fez com que nosso país fosse inundado por produtos ingleses. Esta medida acabou prejudicando o desenvolvimento da indústria brasileira. 
Medidas tomadas por D. João

D. João adotou várias medidas econômicas que favoreceram o desenvolvimento brasileiro. Entre as principais, podemos citar: estímulo ao estabelecimento de indústrias no Brasil, construção de estradas, cancelamento da lei que não permitia a criação de fábricas no Brasil, reformas em portos, criação do Banco do Brasil e instalação da Junta de Comércio.


Do ponto de vista cultural, o Brasil também saiu ganhando com algumas medidas tomadas por D. João. O rei trouxe a Missão Francesa para o Brasil, estimulando o desenvolvimento das artes em nosso país. Criou o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico. Vários cursos foram criados (agricultura, cirurgia, química, desenho técnico, etc) nos estados da Bahia e Rio de Janeiro.

Retorno de D. João para Portugal

Os franceses ficaram em Portugal durante poucos meses, pois o exército inglês conseguiu derrotar as tropas de Napoleão. O povo português passou a exigir o retorno do rei que se encontrava no Brasil. Em 1820, ocorreu a Revolução do Porto, sendo que os revolucionários vitoriosos passaram a exigir o retorno de D. João VI para Portugal e a aprovação de uma Constituição. Pressionado pelos portugueses, D. João VI resolveu voltar para Portugal, em abril de 1821. Deixou em seu lugar, no Brasil, o filho D. Pedro como príncipe regente. 

Pouco tempo depois, D. Pedro tornou-se imperador, após o processo de Independência do Brasil (7 de setembro de 1822). 

A esquadra portuguesa, que saiu do porto de Lisboa em 29 de novembro de 1807, ia comandada pelo vice-almirante Manuel da Cunha Souto Maior. Integravam-na as seguintes embarcações.


§                     Príncipe Real - Comandante, Capitão de Mar e Guerra, Francisco José do Canto Castro e Mascarenhas.
§                     D. João de Castro - Cmdte, Cap. de M. e G., D. Manuel João Loccio.
§                     Afonso de Albuquerque - Cmdte, Cap. de M. e G., Inácio da Costa Quintela
§                     Rainha de Portugal - Cmdte, Cap. de M. e G., Francisco Manuel Souto-Maior.
§                     Medusa - Cmdte, Cap. de M. e G., Henrique da Fonseca de Sousa Prego.
§                     Príncipe do Brasil - Cmdte, Cap. de M. e G., Francisco de Borja Salema Garção.
§                     Conde D. Henrique - Cmdte, Cap. de M. e G., José Maria de Almeida.
§                     Martins de Freitas - Cmdte, Cap. de M. e G., D. Manuel de Menezes.
§                     Minerva - Cmdte, Cap. de M. e G., Rodrigo José Ferreira Lobo.
§                     Golfinho - Cmdte, Cap. de Fragata, Luís da Cunha Moreira,
§                     Urânia - Cmdte, Cap. de Frag., D. João Manuel.
§                     Lebre - Cmdte, Cap. de M. e G., Daniel Tompsom.
§                     Voador - Cmdte, Cap. de Frag., Maximiliano de Sousa.
§                     Vingança - Cmdte, Cap. de Frag., Diogo Nicolau Keating.
§                     Furão - Cmdte, Capitão Tenente, Joaquim Martins.
§                     Curiosa - Cmdte, Primeiro Tenente, Isidoro Francisco Guimarães.



Fonte : http://br.answers.yahoo.com
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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO - TEXTO 2º ANO E.M.

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

É de Karl Marx a asserção de que todo novo estado da divisão do trabalho determina as relações dos indivíduos entre si com referência a material, instrumento e produto do trabalho. Foi assim com a propriedade tribal, depois com a comunal e com a feudal, ou estamental.

Portanto, um modo de produção ou estágio industrial é marcado por um modo de cooperação ou estágio social sendo ele mesmo uma força produtiva.

Entre a reflexão e a execução

Mas só passou a haver efetiva divisão quando se instalou uma separação entre trabalho manual e trabalho intelectual. Enquanto execução e reflexão andaram juntas nesse processo, o indivíduo pôde, de algum modo, realizar-se em sua ocupação.

É só com o trabalho industrial, no modo de produção especificamente capitalista, que se dá de fato a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. Marx diz que mesmo na manufatura ainda havia a possibilidade de algum trabalho diferenciado.

Alienação total





Na manufatura, ou modo de produção pré-capitalista, o trabalhador é explorado, mas não é despojado do seu saber. O capital se apropria do trabalho, mas a alienação é apenas do corpo.

Já no modo de produção especificamente capitalista (trabalho industrial), o processo de trabalho é desmontado pelo capital que o remonta à sua própria lógica. A alienação é então total. O trabalhador da manufatura torna-se propriedade do capital.

As forças intelectuais da produção desenvolvem-se apenas num aspecto, em função dos operários serem classificados e distribuídos segundo suas aptidões específicas. Já se nota a cisão entre o trabalhador e as forças intelectuais do processo material de produção, que são apropriadas pelo capital.

Relação hierárquica

Na indústria, a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual se configura na relação entre trabalhadores técnico-científicos, cuja função é organizar o processo de trabalho e os operários que o executam.

Essa é uma relação hierárquica. Os operários estão submetidos à lógica que o capital impôs ao processo de trabalho. Quem atua para submetê-los são os trabalhadores técnico-científicos, que se constituem em agentes do capital.

Os trabalhadores técnico-científicos não só organizam e planificam o processo de trabalho, mas também perpetuam uma estrutura hierárquica e reproduzem as relações sociais capitalistas.

Separação entre execução e reflexão sobre o trabalho

Partindo de Marx, André Gorz acrescenta que, "os trabalhadores da ciência e da técnica, no interior de sua função técnico-científica, têm a função de reproduzir as condições e as formas de dominação do capital sobre o trabalho". As ciências e as técnicas não são, assim, ideologicamente neutras. Elas favorecem a reprodução do capital e de sua lógica.

O próprio Marx já havia sugerido que o desenvolvimento geral da ciência e do progresso tecnológico - a utilização do conhecimento científico-tecnológico na produção capitalista - torna-se o motor da criação da riqueza efetiva. E esta é cada vez menos dependente do tempo de trabalho.

Esse conhecimento científico, que resulta da apropriação capitalista do saber social geral, mostra-se como tendência da produção e reprodução capitalista, em sua fase avançada. Isso acentua cada vez mais a separação entre a execução do trabalho e a reflexão acerca do que se faz, acentuando o estranhamento (a alienação) do sujeito em relação ao que ele faz.

A divisão do trabalho social segundo Émile Durkheim


Émile Durkheim (1858-1917) integra o grupo de cientistas sociais considerados fundadores da sociologia. Em 1893 ele publicou sua tese de doutoramento, intitulada De la Division du Travail Social, estudo em que aborda a interação social entre os indivíduos que integram uma coletividade maior: a sociedade.

Trata-se de um tema central no pensamento sociológico de Durkheim, cujo principal interesse é desvelar os fatores que possibilitam a coesão (unidade, estabilidade) e a permanência (ou continuidade) das relações sociais ao longo do tempo e de gerações. Dentro da perspectiva sociológica durkheimiana, a existência de uma sociedade só é possível a partir de um determinado grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos. Segundo Durkheim, esse consenso se assenta em diferentes tipos de solidariedade social.

Solidariedade mecânica

Em De la Division du Travail Social, Durkheim esclarece que a existência de uma sociedade, bem como a própria coesão social, está baseada num grau de consenso entre os indivíduos e que ele designa de solidariedade. De acordo com o autor, há dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica.

A solidariedade mecânica prevalece naquelas sociedades ditas "primitivas" ou "arcaicas", ou seja, em agrupamentos humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos que a integram compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no que se refere às crenças religiosas como em relação aos interesses materiais necessários a subsistência do grupo, essa correspondência de valores assegura a coesão social.

Solidariedade orgânica

De modo distinto, existe a solidariedade orgânica que é a do tipo que predomina nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social (o conceito deve ser aplicado às sociedades capitalistas). Além de não compartilharem dos mesmos valores e crenças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada indivíduo é mais acentuada. 

A divisão econômica do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas diferentes profissões e variedade das atividades industriais. Durkheim emprega alguns conceitos das ciências naturais, em particular da biologia (muito em uso na época em que ele começou seus estudos sociológicos) com objetivo de fazer uma comparação entre a diferenciação crescente sobre a qual se assenta a solidariedade orgânica. 

Durkheim concebe as sociedades complexas como grandes organismos vivos, onde os órgãos são diferentes entre si (que neste caso corresponde à divisão do trabalho), mas todos dependem um do outro para o bom funcionamento do ser vivo. A crescente divisão social do trabalho faz aumentar também o grau de interdependência entre os indivíduos.

Para garantir a coesão social, portanto, onde predomina a solidariedade orgânica, a coesão social não está assentada em crenças e valores sociais, religiosos, na tradição ou nos costumes compartilhados, mas nos códigos e regras de conduta que estabelecem direitos e deveres e se expressam em normas jurídicas: isto é, o direito.

  
FONTE : Celina Fernandes Gonçalves Bruniera e Renato Cancian 
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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL - TEXTO 1º ANO E.M

Etnocentrismo e Relativismo Cultural

              É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correto; a maior parte das sociedades condenam esse ato. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que em outras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.






                     Centenas de páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem atualmente e também as que existiram.Até há bem pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras.

                   Os europeus que viajaram para as Américas no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que viviam centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os seres humanos. Para Celso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas. Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude


                          Anthony Giddens, Sociology, Polity Press, Cambridge, p. 30 .Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças.

                                 Se bem que o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens.

                      O etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Adaptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.

                      Quais os perigos da atitude etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a conjugação dessa atitude ilegítima com ambições econômicas provocou ao longo da História.
Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de valores culturais superiores definiram como sub-humanos, a antropologia cultural promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas normas (valores das outras culturas Mensagens fundamentais:

  a) Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos;

 b) Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis,

  c) O conhecimento metódico e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário nalguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com a natureza, etc.

                      A defesa legítima da diversidade cultural conduziu, contudo, muitos antropólogos atuais a exagerarem a diversidade das culturas e das sociedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceitos, seria avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura.

Org: Rég!s