quarta-feira, 4 de novembro de 2015

VINDA DA FAMILIA REAL PARA O BRASIL - 1808

 
Chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro em 07/03/1808, óleHunt, Inglaterra, 1999
O mar, destino e fonte de riquezas para o Império Português. Em novembro de 1807, parecia a única saída para o comandante do pequeno país, pressionado pelas duas maiores potências da época.
De um lado, Napoleão. O imperador dos franceses estendia seus domínios em uma guerra pelo continente europeu. Derrubou monarquias e conquistou regiões onde hoje ficam a Bélgica, a Holanda, a Alemanha, a Itália e a Espanha.
Temos que considerar que, naquele período, Napoleão tinha humilhado as principais monarquias européias e o príncipe regente Dom João percebia que, se Napoleão ocupasse Portugal, evidente que sofreria uma humilhação e seria preso”, explica o professor de história em Londres, Francisco Bethencourt.
Do outro lado, a Inglaterra, parceira comercial e militar de Portugal havia 500 anos. A Revolução Industrial ganhava um ritmo intenso nas fábricas inglesas, com mais empregos e máquinas que precisavam de muitas matérias-primas, entre elas, o algodão brasileiro. Para prejudicar este crescimento, Napoleão decretou, em novembro de 1806, o bloqueio continental. Os reinos da Europa deveriam fechar seus portos para navios britânicos.
Em Londres, o rei Jorge III tinha uma doença que causava surtos de demência, mas o sistema de governo já era parlamentarista. Em Lisboa, Dona Maria I estava louca. E quem tomava as decisões era o príncipe regente, Dom João, na época com 40 anos. No Palácio de Queluz, moravam a mulher dele, a espanhola Carlota Joaquina, e os oito filhos do casal.
Dom João preferia ficar a 50 quilômetros de distância. Seu refúgio favorito era o Palácio de Mafra. Cerca de 45 mil homens trabalharam na construção. O ouro do Brasil que chegava em arcas, às burras, transformou um simples convento em um palácio com 5,2 mil janelas e portas, uma basílica e uma biblioteca, com 40 mil obras. Neste cenário, era preciso escolher: ficar e enfrentar o exército francês que se aproximava ou ir para o Brasil. A política portuguesa até este momento estava em cima dos altos muros de Mafra.
A opção pela neutralidade não evitou o dilema que exigia uma solução rápida. No Palácio de Mafra, Dom João ouvia os conselheiros que desejavam uma aliança com a França, mas ele também recebia ministros que defendiam os interesses da tradicional amizade com a Inglaterra. No trono, Dom João hesitava, não dava uma resposta definitiva.
Havia que responder a desafios políticos imensos. E esses desafios eram da ordem planetária. Quer dizer, não era uma questão da Espanha, de Portugal, da Inglaterra ou do Brasil. Era uma questão que importava ao mundo inteiro”, enfatiza o professor de história Joaquim Romero, da Universidade de Coimbra.
O que o governo francês exigia? A ruptura de Portugal com a Inglaterra. Mas, obviamente, Portugal não poderia romper com a Inglaterra simplesmente porque havia o dado político de que a Inglaterra controlava os mares”, explica o presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Arno Wheling.
O maior símbolo deste poder, era um navio de guerra ancorado no sul da Inglaterra. Até hoje, o navio Vitória, em todos os detalhes, lembra a batalha de Trafalgar, na costa da Espanha, em 1805. Os ingleses venceram a frota inimiga que tinha embarcações francesas e espanholas juntas. Napoleão desistiu de confrontos no mar, depois da batalha que envolveu 60 navios.
Livres caminhos nos oceanos eram a alma do império luso, que, como as figuras em uma carruagem, tinham traços orientais, africanos, europeus e americanos. A transferência da sede do império para o Brasil não era uma idéia nova. Essa idéia ocorria sempre nos momentos de crise, quando a corte portuguesa se sentia fragilizada perante uma situação de confronto ou de perigo na Europa”, observa a diretora do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Maria de Lourdes Vianna.
Mas em 26 de novembro de 1807, os portugueses já sentiam a angústia do abandono. Dom João, nesta mesma data, publica um decreto declarando:
" Tenho procurado por todos os meios possíveis conservar a neutralidade de que até agora tem gozado os meus fiéis e amados vassalos e apesar de ter exaurido o meu Real Erário, e de todos os sacrifícios a que me tenho sujeitado, chegando ao excesso de fechar os portos dos meus reinos aos vassalos do meu antigo e leal aliado, o rei da Grã-Bretanha , expondo o comércio dos meus vassalos a total ruína, e a sofrer por este motivo grave prejuízo nos rendimentos de minha coroa. Vejo que pelo interior do meu reino marcham tropas do imperador dos franceses e rei da Itália , a quem eu me havia unido no continente, na persuasão de não ser mais inquietado (...) e querendo evitar as funestas conseqüências que se podem seguir de uma defesa, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuízo da humanidade, (...) tenho resolvido, em benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha senhora e mãe, e com toda a real família, para os estados da América , e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até a paz geral."
No Rio de Janeiro, o vice-rei, Conde dos Arcos, corria com os preparativos para abrigar a Família Real e toda a comitiva. Desta vez, os rumores, dos dois lados do Atlântico, eram verdade.
Há exatamente 200 anos, a Família Real Portuguesa, acompanhada de ministros, padres e nobres embarcou em dezenas de navios rumo ao Brasil. Foi uma saída tumultuada, com carruagens abarrotadas de roupas, pratarias, louças.
Os portugueses ficaram sem seus principais governantes, sem dinheiro e com os inimigos franceses na porta de casa.
Lisboa, uma cidade cercada. Por terra, o exército francês, comandado pelo general Junot, vinha da Espanha. Mais dois ou três dias, chegaria à capital. Pelo mar, nove navios de guerra que saíram do Porto de Plymouth, no sudoeste da Inglaterra, bloqueavam a foz do Rio Tejo.
Dom João mandava diamantes para Napoleão, tentava negociar.
E, com a Inglaterra firmava acordos, assumia compromissos comerciais. Em uma convenção secreta, em Londres, em 22 de outubro de 1807, ficou acertado que Portugal declararia guerra contra a Inglaterra. Foi uma declaração para francês ver. Uma tentativa de adiar o avanço das tropas de Napoleão na Península Ibérica. O principal objetivo era evitar que as colônias e os navios portugueses caíssem nas mãos dos franceses. E, se Dom João não fizesse o que estava combinado, ou seja, ir para o Brasil, um plano inglês já estava pronto. “A frota inglesa estava pronta para bombardear o porto se Dom João não fosse para o Brasil”, conta o pesquisador Patrick Wilken.
O jornalista e pesquisador também descobriu em arquivos ingleses um plano de invasão do Brasil. Ele conta que o plano estava pronto desde 1805: 10 mil soldados ingleses iriam em várias embarcações direto para o Rio de Janeiro. Outra esquadra levaria a Corte Portuguesa para o mesmo destino. Era esperado um desembarque sem hostilidades. O documento do Ministério das Relações Exteriores da Inglaterra não devia ser divulgado.
Mas o ministro George Canning mandava os últimos avisos nas cartas: “Nossa frota está pronta agora, como já estava no ano passado, para escoltar a Corte Portuguesa na sábia decisão de ir para o Brasil.”
Em Lisboa, a movimentação no porto era mais intensa a cada dia. Carruagens, arcas e caixotes cheios de louças, documentos, a baixela real e mais tesouros. Centros de mesa, jóias e metade de todo o dinheiro que circulava no país.
As marcas nas paredes do Palácio de Mafra lembram quadros que foram para o Brasil. Quanto tempo antes tinham começado estes preparativos? “Cerca de um ano, talvez, que se começou a pensar nesses preparativos. Essa fuga acelerada não pode ter existido, porque a esquadra levava, entre várias coisas, nove carruagens. Ora, uma carruagem ou nove carruagens não se metem dentro de um navio da época em 24 horas”, explica o diretor do Museu da Marinha de Portugal, José Rodrigues.
Do Palácio de Queluz, saiu a carruagem da rainha. Dona Maria I, a Louca, teria dito para o cocheiro: “Não corra tanto, vão pensar que estamos a fugir.”
Naquele 27 de novembro, amanheceu chovendo em Lisboa, e as carruagens tiveram dificuldade para atravessar as ruas cheias de lama até o Cais de Belém, onde tinham poucos navios para tantos passageiros. Foi um grande tumulto, com caixas e bagagens para todos os lados. No fim, embarcaram a Família Real, com os nobres, os ministros, os juízes, alguns padres e soldados. Foi um dia de dolorosas separações para as famílias que, depois disso, ficaram divididas por um oceano.
Há uma gravura (veja ao lado) que é particularmente significativa desse ponto de vista e que reflete e expressa a emoção de todos aqueles que viveram esse momento histórico. A começar pelo príncipe Dom João, cuja posição de mão, cujo semblante na gravura revela simultaneamente tristeza pela partida, mas a convicção de que se tratava de uma decisão absolutamente fundamental”, observa o diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa, Jorge Couto.
A viagem
Na madrugada do dia 27 de novembro de 1807 os membros da Família Real saíram de Lisboa.
Às duas horas da madrugada do dia 29 de novembro um vento favorável permitiu que a esquadra zarpasse rumo ao Brasil, o almirante Sidney Smith e Lorde Strangford foram a bordo do navio Príncipe Real e ofereceram hospedagem ao Príncipe Regente na nau capitânia da frota da escolta inglesa, Dom João recusou.
Às 9 horas da manhã do dia 30 de novembro o General Junot entra em Lisboa liderando um exército de 26 mil homens, tendo a frente um destacamento de cavalaria portuguesa que se rendeu e se puseram às suas ordens.
Enquanto isso as esquadras portuguesa e inglesa, são surpreendidas por uma forte tempestade que dispersa os navios.
Em 5 de dezembro de 1807 os navios se reagruparam. Em 8 de dezembro uma nova tempestade formada por ventos do sul dispersa novamente os navios.
Dia 10 de dezembro eles conseguem a muito custo se reagrupar novamente. Em 11 de dezembro a frota avista a Ilha da Madeira . No dia 18 de janeiro de 1808 chegam à costa da Bahia . No dia 22 são avistados pelos habitantes de da Cidade de Salvador os primeiros navios da esquadra.
Às quatro horas da tarde do dia 22 de janeiro de 1808 todos finalmente todos os navios da esquadra estavam fundeados e o Conde da Ponte, governador da Bahia vai à bordo do navio Príncipe Real. No dia 23 é a vez dos membros da da Câmara de irem à bordo do navio Príncipe Real.
A chegada
Às cinco horas da tarde do dia 24 a comitiva real desembarcou na Bahia, com imensa pompa e solenidade.
Em 7 de março de 1808 chegam ao Rio de Janeiro.
Às quatro horas da tarde do dia 8 de março de 1808 a família real desembarcou. Dom João desceu do navio Príncipe Real e passou para um bergantim (uma embarcação de pequeno porte) e assim pode aportar ao cais. Ao mesmo tempo Dona Carlota e os filhos desceram do navio Afonso d´Albuquerque, apenas Dona Maria permaneceu à bordo. Só no dia 10 de março Dom João volta ao navio Príncipe Real para acompanhar o desembarque da mãe; logo após seu desembarque a Rainha mãe Dona Maria I, ouviu um baque de uma portinhola e misturado com os ruídos de tiros de canhão e o alarido da população, ela se assustou e começou a gritar: "Não me matem! Não me matem!" Foi imediatamente recolhida ao Paço.
A família real portuguesa desembarcou no antigo cais do Largo do Paço na atual Praça XV no Rio de Janeiro, é bom lembrar, que o cais ficava onde hoje existe a construção em forma de pirâmide (Chafariz da Pirâmide), mais tarde toda essa parte foi aterrada levando o atual cais das barcas Rio-Niterói para mais longe. Em tempo, a esquadra fundeou na Ilha das Cobras.
A chegada ao Rio foi um alívio, apesar do calor do verão nos trópicos e dos odores fétidos da capital da colônia. A família real foi alojada em três prédios no centro da cidade, depois de colocar na rua o vice-rei, Marcos de Noronha e Brito, o conde dos Arcos, e todas as internas de um convento carmelita. Os demais agregados se espalharam pela cidade, em residências confiscadas da população. Era a política do “Ponha-se na Rua”, nome dado por picardia pelos cariocas, que se inspiraram nas iniciais “PR”, de Príncipe Regente (ou de “Prédio Roubado”, como diziam os mais irônicos), que eram gravadas na porta das casas requisitadas para os nobres portugueses.

O episódio é considerado até hoje uma das maiores epopéias da história lusitana. Ao fugir do avanço das tropas de Napoleão, a corte portuguesa conseguiu manter seu reinado e a posse de todas as colônias. Com a ajuda, não desinteressada, claro, dos ingleses. Um oficial inglês, Arthur Wellesley, mais tarde feito duque de Wellington, expulsaria os franceses da Península Ibérica, deixando em Lisboa um bem armado visconde de Beresford, que cuidou de rechaçar outras investidas napoleônicas. Em 1815, Wellington derrotaria Napoleão na famosa Batalha de Waterloo se valendo, além da sorte, segundo certos relatos militares, da experiência adquirida nas batalhas travadas antes em Portugal. Para o Brasil, a vinda da corte portuguesa teve enorme impacto positivo. O príncipe regente mandou abrir os portos brasileiros ao comércio internacional e apressou a vinda de imigrantes. Liberou a circulação de moedas, criou o Banco do Brasil e as faculdades de medicina e engenharia. Enfim, emancipou o país, que se libertaria oficialmente da metrópole em 1822.


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 :QUESTOES : 


1- O ano de 2008 assinala os duzentos anos da chegada da Família Real ao Brasil. Sobre isso assinale a alternativa correta.

A) (  ) A monarquia que chegava ao Brasil representava, em realidade, boa parte dos ideais da Revolução Francesa e do liberalismo europeu daquele período.
B) (  ) As motivações da vinda da Família Real para o Brasil estão relacionadas mais à realidade européia do período do que à idéia de desenvolvimento de um Brasil monárquico e posteriormente independente de Portugal.

C) (  ) Foi incentivada a manifestação pública de nossos problemas, seguindo as práticas liberais e laicas da monarquia portuguesa.
D) ( )Chegando ao Brasil, o monarca trabalhou muito para a ampliação da cidadania.
E) (  )A política de terras foi imediatamente implementada e, em 1810, o Brasil realizava sua primeira reforma agrária.

2- Sobre a vinda da Coroa Portuguesa para o Brasil, é correto afirmar que:
A) (  )O bloqueio continental decretado por Napoleão Bonaparte foi a gota d´água para a mudança da sede da corte.

B) (  )Apesar da vinda da família real para o Brasil, o monopólio comercial de Portugal continuou.

C) (  )A abertura dos portos brasileiros às nações amigas beneficiou principalmente à Inglaterra.

D) (  ) O tratado de 1810 estabelecia que a taxa alfandegária sobre produtos portugueses vendidos para o Brasil subiria para 30%.

E) (  )A abertura dos portos beneficiou o desenvolvimento industrial do Brasil.


3- A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil tem sido objeto de intensos e calorosos debates na historiografia luso-brasileira. Dentre as novidades implantadas pela chegada da Corte de D. João, estão:
I) Maior controle sobre a concessão de sesmarias, via criação da Mesa do Desembargo do Paço do Rio de Janeiro
II) Fundação do Banco do Brasil
III) Criação da Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão
IV) Criação da Intendência Geral da Polícia
V) Institucionalização do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro para julgar as querelas da Província
Assinale a alternativa que reune os elementos identificados com a transferência da Corte Portuguesa:

A)  I e II , apenas 
b)  I , II e III , apenas
c)  I , II e IV , apenas
d) III , IV e V , apenas 
e) IV e V , apenas 

4 - A chegada da Família Real e da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808 introduziu grandes mudanças na sociedade brasileira. Os grandes proprietários rurais e negociantes aglutinaram-se ainda mais do que antes ao redor da Família Real. Isso permitiu que, no contexto da independência (1822), alguns fenômenos permanecessem. Tendo em vista esses processos, considere as seguintes afirmativas:
  1. A escravidão foi mantida, sem que os poucos questionamentos a ela conseguissem prevalecer nem nos projetos de Independência, nem na elaboração de um projeto de Constituição em 1823, nem ainda na Constituição outorgada em 1824.
  2. O fim do laço colonial formal com Portugal permitiu a intensificação da relação de dependência frente à Inglaterra.
  3. A escravidão atingiu seu auge no Brasil imediatamente após a Independência, ao mesmo tempo em que as negociações internacionais pelo reconhecimento desta última levaram à tentativa de supressão do tráfico de escravos africanos em 1830.
  4. O apoio inglês à manutenção da escravidão e do tráfico de escravos permitiu que o cativeiro permanecesse no Brasil até 1888.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.


d) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
e) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.


5- Há quase 200 anos, em 29 de novembro de 1807, zarpava de Portugal uma esquadra conduzindo a Família Real portuguesa para a sua Colônia americana, onde chegou em janeiro de 1808. Esse acontecimento teve muitos desdobramentos para o processo de autonomização política do Brasil.
Sobre esse acontecimento e alguns de seus efeitos históricos, pode-se afirmar:
I.  A fuga da Família Real portuguesa insere-se no bojo da disputa de hegemonia eco nômico-política entre a Inglaterra e a França, sendo Portugal um país-satélite nesse jogo. A transmigração para o Brasil, já cogitada pela realeza lusitana em outras ocasiões, foi uma engenhosa solução para que D. João não cedesse às pressões de Napoleão para que Portugal apoiasse a França contra a Inglaterra.
II.  Uma das primeiras medidas tomadas pelo Príncipe Regente D. João, após sua chegada ao Brasil, foi a reafirmação do exclusivo colonial para a metrópole, consolidando o poder da burguesia comercial portuguesa. Essa medida causou revolta na elite agrária colonial nortista, especialmente a paraibana, que tinha expectativas de melhores condições de comercialização para seus produtos mediante uma política econômica liberal.
III. A instalação do Estado português na Colônia significou a interiorização da metrópole, criando um centro de decisão (Rio de Janeiro) mais próximo dos súditos coloniais. Esse núcleo de poder possibilitou a aglutinação de algumas províncias (o chamado Sul: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), que polarizaram a construção da futura unidade política brasileira, com certa secundarização das províncias do Norte (hoje Nordeste).
Está(ão) correta(s):

a) Apenas II
b) Apenas I e II
c) I, II e III
d) Apenas I
e) Apenas I e III


















quarta-feira, 28 de outubro de 2015

VIOLENCIA E A DESIGUALDADE SOCIAL : CAUSAS CONSEQÜÊNCIAS

Desigualdade Social

A desigualdade social, chamada muitas vezes de desigualdade econômica, é um problema social presente em todos os países do mundo, decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social.
Desigualdade SocialMorro do Papagaio, Belo Horizonte (MG)
No geral, a desigualdade social ocorre, nos países chamados subdesenvolvidosou não desenvolvidos, mediante falta de uma educação de qualidade, de melhores oportunidades no mercado de trabalho, e também da dificuldade deacesso aos bens culturais, históricos pela maior parte da população. Em outras palavras, a maioria fica a mercê de uma minoria que detém os recursos, o que gera as desigualdades.
Estudos afirmam que a desigualdade social surgiu com o capitalismo, ou seja, o sistema econômico que passa a perpetrar a ideia de acumulação de capital e depropriedade privada; ao mesmo tempo que incita o princípio da maiorcompetição e o nível das pessoas baseados no capital e no consumo

Desigualdade Social no Brasil

Mesmo que o país nos últimos anos tenha apresentado uma diminuição da pobreza, o nível de desigualdade social no Brasil ainda é muito notório. Veja o quanto em: Desigualdade Social no Brasil.

VIDEO : Desigualdades: descobrindo e convivendo com elas


Desigualdade Social no Mundo

Por ser um problema que atinge todos os lugares, a desigualdade social existe nos diferentes continentes, países, regiões, estados e cidades. Entretanto, há lugares em que os problemas são mais evidentes como, por exemplo, nos países africanos, os quais estão entre os mais desiguais do mundo.

Causas da Desigualdade Social

  • Má distribuição de renda
  • Má administração dos recursos
  • Lógica do mercado capitalista (consumo, mais-valia)
  • Falta de investimento nas áreas sociais, culturais, saúde e educação
  • Falta de oportunidades de trabalho
  • Corrupção

Consequências da Desigualdade Social

  • Pobreza, miséria e favelização
  • Fome, desnutrição e mortalidade infantil,
  • Aumento das taxas de desemprego
  • Diferentes classes sociais
  • Marginalização de parte da sociedade
  • Atraso no progresso da economia do país
  • Aumento dos índices de violência e criminalidade

Tipos de Desigualdades

  • Desigualdade econômica: desigualdade entre a distribuição de renda.
  • Desigualdade racial: desigualdade entre as raças: negro, branco, amarelo, pardo.
  • Desigualdade regional: desigualdade entre regiões, cidades e estados.
  • Desigualdade de Gênero: desigualdade entre os sexos (homens e mulheres).

Curiosidades

  • Segundo a ONU, o Brasil é o oitavo país com o maior índice de desigualdade social e econômica do mundo.
  • O "Coeficiente de Gini" é uma medida utilizada para mensurar o nível de desigualdade dos países segundo renda, pobreza e educação.
  • Na União Europeia, o país que apresenta maior desigualdade social é Portugal.
  • Os países com menor desigualdade social são: Noruega, Japão e Suécia.
  • Os países que apresentam maiores desigualdades sociais são do continente africano: Namíbia, Lesoto e Serra Leoa.
VIDEO: VIOLENCIA : UMA EXPRESSAO DA DESIGUALDADE SOCIAL 



Violencia ...  um olhar da Sociologia :

SOCIOLOGIA - TEXTO - VIOLÊNCIA - 2ª E.M.



 A VIOLÊNCIA EM DEBATE 


Não é tão simples definir a palavra ‘violência’, segundo sociólogos e pesquisadores deste tema. As conotações deste conceito variam conforme suas fontes. Por exemplo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), este termo significa impor um grau intenso de dor e sofrimento que não se pode evitar. Para os militantes dos direitos humanos, a ‘violência’ é entendida como a violação dos direitos civis. Mas os estudiosos crêem que seu significado é muito mais profundo.

A violência tem várias faces. Na verdade, a violência urbana é apenas uma delas, entre guerras, miséria, discriminações, e tantas mais. O ângulo aqui abordado é um dos mais discutidos e controvertido de nossos tempos. Os atos transgressores ocorridos no âmago das grandes cidades, de caráter estritamente agressivo, frutos da vida em sociedade na esfera urbana, caracterizam, em parte, este fenômeno social que se convencionou chamar de violência urbana. 



Ela se expressa através dos níveis cada vez mais elevados de criminalidade, da sujeição freqüente ao domínio dos instintos selvagens e bárbaros, do crime organizado, principalmente em torno do tráfico de drogas, dos atos despidos de qualquer civilidade – aqui se compreendem também a constituição de gangues, as pixações, a espoliação dos bens públicos, o caos do trânsito, os pontos abandonados da cidade, sem nenhuma preservação ou manutenção, entre outros.
Infelizmente, a cultura de massa e um setor da mídia, irresponsável e sensacionalista, alimentam essas tendências explosivas das metrópoles, incentivando a violência por meio de filmes, músicas, novelas, um jornalismo policial preocupado apenas com uma audiência crescente, entre outros.
A violência está enraizada no próprio processo histórico brasileiro, desde os primórdios da colonização. Milhares de índios foram exterminados, culturas dizimadas, outros aborígenes escravizados, ao lado dos negros trazidos da África. Esse contexto foi, ao longo do tempo, agravando-se ainda mais. Depois da libertação dos escravos, da importação de mão-de-obra de outros países, os imigrantes, o número de excluídos e marginalizados da nossa sociedade foi crescendo significativamente.

À medida que as cidades passaram a inchar de forma caótica, desordenada, sem nenhum planejamento, absorvendo também os trabalhadores do campo, principalmente após a mecanização rural, sua população foi dividindo os territórios – um centro ocupado pela elite, alguns círculos habitados pela classe média, e uma periferia crescente que cada vez mais se expande por todos os espaços desocupados que restam nas metrópoles urbanas.



Tudo isso, somado a um sistema econômico que mais exclui do que inclui as pessoas, mecanismo cruel que, por um lado, explora os trabalhadores, aliena-os do produto de seu trabalho, e por outro estimula ao máximo o consumo, através dos canais disponibilizados pela mídia e pela cultura de massa. Assim, a maior parte dos jovens, excitados pelo apelo ao consumismo, sem perspectivas materiais e sociais, abandonados pelo Poder Público, que não investe o suficiente em políticas educacionais e culturais, vê abrir-se diante de seus olhos o universo do crime organizado, que eles acreditam lhes proporcionar tudo o que mais desejam. Este mundo, a princípio fascinante, ocupa o vácuo deixado pelo Estado, mas depois trai cada um de seus seguidores, oferecendo-lhes nada mais que uma vida perdida, sem dignidade, mergulhada nos vícios e em uma violência sem freios, que acaba ceifando suas próprias existências.

Assim, em sociedades nas quais as instituições revelam-se fracas e corrompidas, na qual a autoridade social encontra-se desacreditada, os valores morais atravessam uma fase de decadência e descrença, na qual até mesmo a família tem deixado de cumprir seu papel fundamental na esfera da educação e da concessão de limites, vemos a violência urbana ultrapassar inclusive as barreiras sociais, aliciando adeptos em todas as classes sociais, em qualquer faixa étnica, independente até mesmo de sexo, idade ou religião.

A própria vida perdeu seu sentido, daí presenciarmos linchamentos, justiça realizada pelas próprias mãos, crimes passionais, assassinatos resultantes de brigas no trânsito, em casas noturnas, shows, bares, entre pessoas aparentemente honestas e até aquele momento completamente obedientes às normas sociais e legais.
Hoje, em nosso país, a violência se dissemina também pelas cidades do interior, pois os grupos criminosos vão procurando novos territórios. Além disso, também essas pequenas cidades absorvem atualmente os problemas antes típicos das grandes metrópoles, principalmente a degradação moral. Torna-se urgente uma profunda reforma político-social, aliada a um resgate intenso dos valores esquecidos, perdidos pelo caminho. Esta ação depende do Estado, mas também de toda a sociedade organizada.



Fontes


http://www.infoescola.com/sociedade/violencia-nas-grandes-cidades/


http://www.serasa.com.br/guiacontraviolencia/violencia.htm

http://www.renascebrasil.com.br/f_violencia2.htm

http://www.comciencia.br/reportagens/violencia/vio09.htm

Org. : Rég!s




VIDEO :  "As raízes históricas e sociais da 

violência no Brasil" - Prof. Sérgio Adorno





SOCIOLOGIA 4º BIM - DESUMANIZAÇÃO E/OU COISIFICAÇÃO



A Arte como mercadoria: como “enfeitiçar” o público

A capacidade que a mercadoria possui de encobrir, de mistificar o que existe por trás dela (luta de classes, trabalho social, mais-valia, etc.) é o que Marx chamou de “fetichismo da mercadoria”. Como disse: “uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas”.
Com o surgimento do capitalismo, homens e mulheres foram paulatinamente afastados dos meios de produção, assim como do produto por eles criado. O confinamento dos operários nas fábricas tira destes não apenas a posse dos produtos, mas ele próprio deixa de ser o centro de si mesmo. O trabalhador tem um “contrato livre” de trabalho, mas não é ele quem escolhe o seu salário, ou a extensão da jornada, nem mesmo o seu ritmo. Tudo isso passa a ser comandado de fora por forças estranhas a ele. As mercadorias convertem-se em realidades soberanas e tirânicas, assumem formas abstratas e superiores aos humanos.
É essa “humanização” da mercadoria que leva, no contraponto, a “desumanização” do homem. Não por acaso a força de trabalho humana é transformada em mercadoria, vez que passa a ter um preço no mercado. A alienação e o fetiche, portanto, não são meramente teóricos, mas se manifestam na vida real das pessoas. Mesmo que essas continuem a produzir valores e criar identidades e cultura, há uma interseção das relações sociais tendo como base o mecanismo produtor da forma mercadoria, na tentativa de “ganhar a sua alma” e embotar a sua consciência.
Arte e Capitalismo: o exemplo do cinema

No mundo capitalista atual assistimos à crescente transformação da arte num verdadeiro acervo de mercadorias. Grande parte do que é produzido em termos culturais e artísticos é massificado, padronizado e colocado para consumo popular. O “espírito de mercadoria” permeia a produção artística. O cinema, apenas para lidar com um exemplo mais concreto, não constitui exceção. Ao contrário, apresenta-se como uma forma potencializada de mercadoria, pois, além de ser ele próprio uma mercadoria, e, assim como todas, mascarar a realidade, o cinema atual ainda traz em si a capacidade de fazer apologia de inúmeras outras mercadorias, pelo merchandising. As telas são invadidas por infinitas mercadorias que pululam artificialmente como uma imposição de consumo. Roteiros são modificados e a arte é sacrificada a bem da propaganda.
Já não é novidade, para quem gosta do “escurinho do cinema”, o encontro entre os filmes e a publicidade. Além disso, outras características despontam nas atuais produções cinematográficas, como a busca da simplicidade dos roteiros, diálogos e imagens. Isso sem falar nos invariáveis happy end (finais felizes). Tudo se faz para que um filme se assemelhe a  comerciais de TV e videoclipes. Mark Crispin Miller, professor e crítico americano, em entrevista à Revista Veja de 25/07/1990, já chamava a atenção para os pontos acima citados. O esforço generalizado visa formar grandes públicos consumidores: a receita é rebaixar o nível e oferecer uma saída para a realidade.
Numa sociedade produtora de mercadorias, a estrutura do mecanismo de produção das mercadorias tende a se universalizar, o que leva, via de regra, à universalização do fetiche. Tudo o que se produz, mesmo em termos de arte, tende à padronização, ao estereótipo, ao caricatural. Tem-se, cada vez mais, que dar às “coisas” um padrão universal que esteja ao alcance do mercado. Por isso, os filmes são cada vez mais simples do ponto de vista do conteúdo e da forma. Assemelha-se a comerciais de TV, quer seja na simplicidade dos diálogos e dos roteiros, quer seja na descomplexidade das imagens. É necessário descomplicar e transformar a mercadoria em algo fácil e acessível a um mercado de milhões de consumidores.
Essa “descomplicação” também não se dá por acaso. Para isso são utilizados alguns mecanismos que fazem a universalização e massificação do objeto arte. Entra em cena o empresário da arte e as grandes companhias capitalistas. Não raro, pessoas que chefiam a produção de filmes são grandes executivos de empresas. Existe uma interação entre o produtor e o consumidor da arte. Um empresário, ao produzir um filme, age como um outro ao desenhar um modelo de carro. Pensa num determinado tipo de consumidor para o seu produto. Ele vai determinar o tipo de consumidor e o modo como o produto vai ser consumido. Para isso, vai criar, por intermédio da propaganda, a excitação para o consumo, ou seja, vai criar os estímulos que deverão ser assimilados pelo consumidor.
É aí que se dá, de fato, a interação, pois o consumo, por seu lado, não é inerte, mas ele também condiciona a vocação do produtor. O consumo inspira ao produtor o tipo de produção a ser realizada. Se um carro não agradar — e não vender — será rapidamente tirado do mercado, ou modificado para posterior apresentação dentro de novos padrões. É obedecendo a esse tipo de lógica capitalista que o “produtor de arte” não se preocupa em produzir verdadeiramente arte. Conhecendo a concepção viciada e alienada do grande público (que assim é devido aos mecanismos produtores de alienação, que o condicionou), ajusta-se ao padrão de consumo rebaixado. Alguns desses fatores mudaram a expectativa do público ao longo das últimas décadas. Submetidos a tais estímulos, aos poucos o consumidor aprendeu a só responder positivamente ao padrão do fácil e caricatural.
Não é à toa, por isso, o número de programas em que “a votação do público faz o final”, ou que este intercede até na mudança de roteiros de filmes e de seus finais. Não se sabe mais lidar com o desapontamento. O que se procura, então, é um programa que nos dê “uma diversão pura, para oferecer uma saída para essa realidade” (Crispin Miller). Aqui entendemos a insistência do produtor capitalista em elaborar seus imutáveis happy end para que o público deixe a sala de projeção “pacificado, infantilizado”. E mais: idiotizado, trapaceado, enganado. O cinema, produzido dessa maneira, transforma-se no fetiche que satisfaz.

Cinema e publicidade
Como dissemos, o merchandising permeia os roteiros das produções cinematográficas que são controladas por empresas especializadas em modelar padrões estéticos e culturais, assim como padrões de gosto e consumo. O casamento entre o cinema e a publicidade, torna ainda mais eficaz o processo desenvolvido pelos ideólogos capitalistas, que consiste em mascarar a realidade, não permitindo ver o que está por trás dela.
Vivemos numa sociedade em que predomina a produção alienada e fácil, onde também o consumo tende a ser alienado. A produção em massa tem como objetivo o consumo de massa. É essa visão, a um só tempo clara e torpe, que impõe como linguagem cinematográfica, a mais eficaz para um consumo universalizado: a linguagem do senso-comum. Foi assim que se desenvolveu uma espécie de “cinema folhetim” capaz de abastecer amplas camadas da população. A linguagem da ficção tornou o cinema um mero contador de estórias. É isso que o torna acessível a um vasto mercado consumidor, sem falar que uma linguagem não se desenvolve abstratamente, mas em função de um projeto: vender e alienar.
A estrutura narrativa desenvolvida pelo cinema tornou-se cada vez mais simplificada e relacionada com o espaço. A junção dos filmes, comerciais e videoclipes levou ao aparecimento dos trihlers, o filme padrão dos anos 90, que busca tornar-se tão simples como uma propaganda comercial e tão frenético quanto um videoclipe. Recursos estilísticos mais complexos são abandonados para a entrada da violência, da velocidade e da música penetrante. Tudo contribui para traçar um quadro hiper-real, tão intenso quanto as crescentes solicitações da maior parte do público espectador, jovens entre 15 e 25 anos. E aqui estamos, mais uma vez, com outro exemplo de uma estreita relação entre o produtor e o consumidor do objeto de arte: incapazes de se emocionar com antigos níveis de violência ou com outros tipos de sugestões mais elaboradas, põem-se os empresários a produzir filmes para agradar esse público. A união do útil ao agradável, da alienação e da acumulação, cai como uma luva, ao tempo em que a ordem social é mantida. 
A tentativa de padronização da consciência humana se dá pela simplificação da linguagem e dos recursos de percepção. A tipos de linguagem correspondem tipos de pensamento. Se o uso da linguagem do senso-comum se dá de forma massificadora, há uma tendência a se disseminar o pensamento senso-comum, que só se expressa a partir da percepção, da representação de objetos reais, do imediato. Há, no nosso dia-a-dia, cada vez menos espaço para o pensamento abstrato, mediato, que estabelece relações não perceptíveis formalmente, que cria conceitos, enfim, que pode revolucionar.
 tentativa de desumanização ou coisificação de homens e mulheres (para ser politicamente correto!) é um dos recursos mais largamente utilizados pelos mecanismos produtores de alienação. Nos filmes, assim como em toda a mídia, as necessidades de consumo são artificialmente estimuladas. Buscam, com os seus anúncios, despertar emoções de prazer, alegria, contentamento, felicidade, etc. Acabam irracionalmente mostrando às pessoas que elas precisam de determinado artigo para conquistar para si a emoção veiculada. O espectador que vê o seu herói se refrescar com uma coca-cola, por exemplo, pára na mais próxima loja de conveniência (vejam o nome!) e, diante de um calor infernal, delicia-se com o artigo que lhe foi imposto. Muito mais do que o produto, bebeu ele, ainda que inconscientemente, a marca.
A alienação e a excitação ao consumo acabam modelando a consciência do espectador e veiculando valores que deverão ser assimilados por ele, valores estes que estão centrados no “ter” cada vez mais as coisas. É obvio que isso não se dá para todos os espectadores, mas o mecanismo é por demais eficiente para um percentual significativo de pessoas, considerando, também, a quantidade de suas repetições. É a eficácia desse mecanismo que leva ao torpor das consciências e a um padrão de comportamento e consumo cada vez mais uniforme, desumanizando seres humanos, podando sua capacidade crítica de pensar.

A realidade e a ficção da realidade
A dicotomia produção-consumo, numa sociedade eminentemente consumidora, já é, como vimos, um mecanismo produtor e potencializador de alienação. Por mais que acabem criando e/ou reciclando valores, as pessoas são impedidas de ver com clareza a própria exploração e a perda de sua liberdade. Perdendo a capacidade de contestar, fica praticamente destruída a sua capacidade de atuação no campo da política, da arte, e em vários espaços sociais.
Praticamente, tudo o que se produz e é colocado para consumo de massa está carregado de ideologia: o cinema, os noticiários de tv, a imprensa escrita, a literatura, os desenhos animados, as novelas, dentre tantos exemplos que nos cercam. Todos esses mecanismos veiculam valores que visam adequar o indivíduo à sociedade, integrando-o à ordem estabelecida. A realidade mostrada não raro é estereotipada, idealizada e deformada. A visão do trabalho iguala o que é desigual, ocultando a dureza e alienação das jornadas massacrantes que compõem a vida real. A sociedade, como mais um estereótipo, é um roteiro interminável de harmonia (ou de não contradições), e cada pessoa cumpre o seu papel como se fosse um destino ao qual não se pode fugir, e a que deve se conformar, de preferência, com alegria e prazer. A impressão que é passada de pobreza e riqueza é absolutamente “natural” e não “social”, como se estas fizessem parte da natureza das coisas e não fossem o resultado da ação de mulheres e homens no fazer de sua história. A generosidade e filantropia dos ricos chegam a comover!
Mais uma vez os happy end das novelas e dos cinemas ajudam a estereotipar esse mundo. Neles, as personagens acabam se casando e se encontrando e vivendo “felizes para sempre”. Na dicotomia “bem versus mal” o primeiro é sempre o vencedor. Todo o substrato social e a luta de classes e todos os problemas concretos, cotidianos e históricos vividos pela grande maioria do público espectador, o trabalhador, não importa. O principal é que as personagens achem seus príncipes e princesas encantadas, casem-se, e assim tudo está resolvido. O encantamento é parte do feitiço que aplaca as agruras quando se descobre que não há como pagar as contas, ou mesmo, para muitos, o que comer.

Conclusão
Os processos atrás descritos são amplamente utilizados pela classe dominante para escamotear a realidade e camuflar a desigualdade. Foi o que tentamos abordar nesta matéria discorrendo sobre o fetiche e a alienação, priorizando o exemplo do cinema. A nós é passado, a um só tempo, uma falsa ilusão de mobilidade — que existe numa quantidade diminuta em relação ao todo social —, mas também uma visão estática e imobilista do mundo. Os problemas, de ordem histórica e social, são por nós assimilados como “coisas naturais”. Há todo um mecanismo estrutural (o fetiche da mercadoria) e também subjetivo (a propaganda ideológica) que tenta impedir a nossa tomada de consciência dos conflitos e contradições da sociedade. Ao fazer isso, é criada, pelo contrário, a predisposição ao conformismo e à passividade.
No fundo, esse processo é extremamente eficaz e gera a incapacidade de boa parte dos trabalhadores de perceber o mecanismo de alienação. Este começa na divisão do trabalho, perpassa o Estado e chega aos meios de comunicação, pelos quais é veiculado via senso-comum. É assim que é completado o circuito, quando as pessoas não conseguem ultrapassar as aparências e chegar à essência, à realidade que há por detrás de cada fato ou de cada produto, por mais inocentes que pareçam.

FONTE :  http://www.saiunojornal.com.br/o-mundo-e-uma-grande-uniban-geisy-arruda-vestido-rosa-curto.html
              http://opop.sites.uol.com.br/ger_n6_6.htm



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