quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TEXTO 02 - PARA TRABALHO 2º SÉRIES - 4° - BIMESTRE

 UMA DEFINIÇÃO  DE VIOLÊNCIA ...

 O fenômeno da  mundialização iniciado pelos conquistadores desde o despertar da civilização e interpretado de forma mais  profunda no século XXI como  globalização é o processo que vem transformando as relações humanas, produzindo uma nova visão de mundo, principalmente, no que diz respeito à violência, em particular a violência urbana. A etimologia da palavra violência vem
do latim  vis que se caracteriza pelo emprego da força bruta. Essa violência que corre e ricocheteia sobre todas as superfícies de nossa existência e que uma palavra, um gesto, uma imagem, um grito, uma sombra que seja, capta, sustenta e relança indefinidamente, e que, no entanto, desta espuma dos dias abre à alma vertiginosos abismos em mergulhos de angústia. A noção de violência conserva, mais que a extensão da pele, o ódio, amor e angústia. Não há uma palavra, um gesto, objeto ou instante que não encubra, às vezes imperceptivelmente um grão de violência. (Dadoun, 1993).

A violência não é apenas um instrumento eficaz de interação: amiúde é pura e simplesmente percebida como um flagelo social que precisa ter remédio. Há boas razões para ser sensível à generalização do emprego da violência como meio cômodo de conseguir seus objetivos, mas não devemos  ignorar o fato de que as sociedades contemporâneas desenvolvidas não param de elaborar
mecanismos de controle dos desafios que encontram no combate a violência. Na maioria dos países desenvolvidos, a insegurança é um fenômeno urbano. Em 1975 por exemplo, nos Estados Unidos, 25% dos 20 000 homicídios nacionais ocorreram em apenas 10 cidades. Sabe-se também quais são os bairros de alto risco e que tanto os criminosos quanto às vítimas são pessoas de baixa renda. A
violência se dá essencialmente em subculturas pobres onde os próprios indivíduos receberam uma educação violenta de pais violentos. Na medida em que as socializações para a violência numa família violenta e os valores machistas são fatores importantes de agressão, é indispensável uma política de educação e de auxílio à infância, - em particular para as crianças espancadas e vítimas de
servícias por parte dos pais,  (MICHAUD 1989, p. 62).



A violência urbana não é um evento novo, na sua classificação inclui atitudes violentas típicas do contexto citadino, ou casos que o imaginário circunscreve aos espaços urbanos. Essa é uma das categorias mais usada, porque inclui a narrativa dos mais variados acontecimentos, tais como: assassinatos, seqüestros, atropelamentos, crimes passionais, agressões, brigas, todos os tipos de assalto, fatos ligados às prisões e as ações governamentais, entre as quais se destacam as da segurança pública.  Daí se pode provar que ela apenas está mais presente, principalmente, por causa do exagerado crescimento das cidades. E um dos fatores que concorre para isso é a falta de expressão cultural da população rural, que evade para a cidade a procura de cultura, ingrediente importante para o crescimento social. Mas, uma vez na cidade, o homem se decepciona com a falta
do oferecimento desse benefício.  O êxodo rural conduz a uma série de outras implicações sociais, culturais e principalmente, o da violência. Os migrantes são desenraizados do seu contexto
sócio-cultural e projetados para ambientes muitas vezes hostis e carentes nas periferias das cidades. Enquanto as conseqüências culturais  se manifestam a médio e longo prazo, os impactos sociais aparecem imediatamente. Aí surge nas cidades brasileiras, a figura do excluído que “vive em situações desfavoráveis de miséria”. (VÉRAS, 1995, p. 15). Em decorrência disso, não há como evitar os focos de pobreza e miséria, e ainda desemprego e a marginalização de jovens e velhos. Há quem considere que pobreza não seja motivo para os homens cometerem ou se envolverem em
crimes. Há de se concordar com a rejeição de alguns estudiosos sociais e do comportamento que não é a pobreza que determina o caráter violento do homem. Mas em circunstâncias urbanas quem determina a conduta dos homens são fatores que precisam de estudos mais profundos, e, um desses fatores e produto dessas ações desviantes é o econômico.

 A população urbana no Brasil atinge, aproximadamente 76% nos dias atuais. O cotidiano na cidade tornou-se inseguro e violento, sobretudo nas grandes metrópoles. Os sinais são os muros que estão cada vez mais altos, o crescimento do número de guardas particulares e de esquemas de segurança cada vez mais sofisticados. A vida em condomínios fechados é uma alternativa para a parcela
bem aquinhoada da população; o restante vive fora dos muros, sujeito a mazelas da vida real. O aumento da violência urbana mudou o estilo de vida, valorizando os “locais protegidos”, que favoreceu ainda mais os desequilíbrios sociais já existentes. Com todos estes artifícios de segurança a liberdade de circular dos indivíduos diminuiu. As pessoas não são livres para sair a qualquer hora do dia ou da noite, ou ir a qualquer lugar sem preocupação. As crianças não podem brincar
nas ruas porque muitos bairros são as gangues que tomam conta e ditam as regras de comportamento. São novas regras que regulam o uso do espaço. Esta situação é fomentada pelas desigualdades existentes entre a elite e o povo, pela permanência das formas injustas de exploração da mão-de-obra e pela ausência de regulação do poder público caracterizado por um elevado grau de impunidade.

O homem urbano é refém do consumismo selvagem, escamoteia sua vida, isto é, vive fora da realidade de suas condições econômicas. O emprego da violência como forma de solucionar os conflitos envolvidos nas relações de gênero, bem como em outras modalidades de relacionamentos
interpessoais não sabemos, se de fato, é mais freqüente ou se tornou mais visível. Conquanto a relação entre o crescimento da violência interpessoal e a instabilidade econômica das nações é bastante clara, seu emprego para solucionar os problemas sempre presentes nas relações humanas está diretamente ligado a certos hábitos culturais e políticos, tais como a estereotipagem das diferenças de classe, de gênero ou de raça e o exercício desigual do poder e da cidadania.
Levando em conta que cabe às ciências sociais se pronunciarem a respeito desses hábitos culturais e políticos, o crescimento ou a maior visibilidade da violência “urbana” coloca novos desafios para essas ciências, demandando uma reflexão distanciada do senso comum, ou como afirma Roberto da Matta, menos moralista e escandalosa, uma perspectiva que permita idealizar estratégias e
sugerir alternativas mais realistas. (SUARÉZ E BANDEIRA, 1999, p. 13). A violência urbana é um destino inexorável de todos os seres humanos que vivem em sociedade. No entanto os homens têm consciência da sua penetrância na cultura e faz de conta que nada está acontecendo,  isso até quando ela não chega aos 10% mais ricos. A crença dos ricos que a violência não os atinge é o que fez atingir esse patamar. Hoje ela se aproximou dos ricos e se tornou um instrumento de manobras políticas.


 O rápido desencadeamento da violência urbana nas décadas de 80 e 90 do século XX e princípio do século XXI provocou espanto na sociedade e nos governantes. Mesmo prevendo o fracasso dela, assustam-se com os últimos acontecimentos e os especialistas em segurança
recusam em aceitar a própria inoperância do Estado em  combater a violência, pois, tanto o Estado legal, quanto à sociedade estão conscientes que são partes intrínseca e extrínseca de toda essa engrenagem que só tomará o ritmo certo quando ambos estivem na mesma direção.



A violência urbana vem crescendo há cerca de aproximadamente 50 anos, como resultado do processo de urbanização dos centros industrializados. As grandes cidades cosmopolitas, impiedosamente destruíram  os laços de  amizade entre os homens, fragmentando a sociedade em pequenos núcleos, instaurando um extremo individualismo. Nas sociedades urbanas a vida comunitária perdeu sua predominância, dando lugar a uma vida individual, onde as pessoas se
encontram inseridas num controle total de amizades. A classe mais abastada da sociedade vive a agonia da proximidade da pobreza à suas mansões. O homem urbano é individualista, arraigado pelo desejo de vencer na vida, massacrado pelo capitalismo é obrigado a desempenhar funções que não escolheu e num ritmo acelerado, acha-se muito distante daquilo que desejou. Sua vida se torna instável quando ele fica desempregado, um paralelo paradoxo, entre sua vida anterior e sua vida atual, ultrapassando sua consciência de ser humano do bem, agindo agora para a sua sobrevivência e de sua família. Quando o homem fica desempregado na cidade e não é  resgatado novamentepara o mundo do trabalho, ele sente uma preocupação mórbida de conseguir dinheiro para se manter. O homem urbano vive obcecado por dinheiro.  O crescimento urbano descontrolado está levando as grandes cidades à beira do colapso, provocando muita miséria, ocorrendo com isso o fenômeno da exclusão social. Não apenas a disparidade entre ricos e pobres que tem crescido
nas últimas décadas, como também o número de famílias que vivem no limite ou abaixo do limite de pobreza. A exclusão social não se refere apenas à situação econômica dos indivíduos. Outros fatores também podem levar a marginalização, como a descendência étnica, o sexo, a idade, o local de residência, a religião ou a condição de emprego.



E essa marginalização calcada nessas diferenças contribui significamente para a intensificação da violência. Isso demonstra uma forma trágica da criação de um novo mundo, “o mundo do crime”, como é designado pelo Estado. No estado de organização que os criminosos chegaram fica difícil á desestruturação desse segundo estado, que oferece segurança àqueles que lhes são fiéis. Os criminosos usam do mesmo estatuto do Estado, e institui deveres e direitos como ressalta
Walter Maierovitch, as entidades criminosas prestam algum socorro, mas o preçoé a eterna dependência, como se no Estado legal fosse diferente.

Em São Paulo, maior cidade brasileira, com mais de dez  milhões de habitantes e aproximadamente duzentos mil presos, as organizações criminosas disputam poder com o Estado legal, instituindo entidades do crime como: PCC – Primeiro Comando da Capital, CRBC – Comando Revolucionário Brasileiro da criminalidade, CDL – Comissão Democrática de Liberdade, SS – Seita Satã, CJVC
– Comando Jovem Vermelho da Criminalidade. No Rio de Janeiro segunda cidade brasileira em número de criminalidade, também tem suas organizações criminosas, como o CV – Comando Vermelho, TC – Terceiro  Comando, AdA – Amigos dos Amigos e outros. Belo Horizonte, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, são cidades que segundo dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública também têm suas organizações para o crime. A civilização urbana concorre para essa transmissão de violência, o ser humano é obrigado a lutar pelos seus direitos, usando até mesmo de violência. É, pois, esta a miserável condição em que o homem realmente se encontra, por obra
de sua natureza. Embora com possibilidade de escapar de suas paixões em contraste com a razão, ao reconhecer sua posição social, faz uma avaliação e escolhe em buscar recursos, essa escolha precede o que pode ser honesto ou desonesto, os objetivos têm que ser atingidos a qualquer custo. A consciência do errado ajuda a questionar não só o tempo que trabalhou honestamente e não
conseguiu muito para sua vida quando atinge um resultado favorável com o ato ilegal.

O mundo sofre hoje uma guerra silenciosa, sintoma que o infecciona social, cultural e economicamente. A violência cada vez mais se avizinha da classe média alta brasileira. Tomemos como ponto de referência à cidade de Brasília para se falar do tema “violência urbana”. Brasília como capital do país, planejada para chegar ao terceiro milênio com uma população de aproximadamente 500 mil habitantes, hoje ultrapassa os dois milhões. Longe de alcançar suas aspirações de cidade ordeira, trilha um caminho com milhares de obstáculos sociais.
Uma cidade empedernida pelo poder, “são muitos caciques para poucos índios”, com uma política de apadrinhamento e um modelo de combate à violência americanizado, - baseado na “tolerância zero” - onde  se escondem dados estatísticos, não é suficiente para manter a cidade fora da estatística mundial da criminalidade, mas suficiente apenas para mantê-la sim,  como uma das cidades mais violentas do Brasil, desafiando as medidas repressivas do governo. A violência também tomou lugar nos castelos privilegiados da cidade modelo. Grupos de jovens dessas residências se unem para espancar outros jovens, chegando até mesmo a matá-los. São os “respingos de sangue”  da violência própria dos menos favorecidos que atingem as mãos da juventude das classes mais abastadas. São fatos estarrecedores, como a queima de pessoas, espancamentos e mortes de jovens, envolvendo adolescentes  desse segmento social. Quando se torna notícia em âmbito nacional, essa  hipócrita “classe” se mobiliza para fazer campanhas pela paz, ignorando que esta circunstância é provocada pela rejeição que sofrem as pessoas de baixo nível, dentro do contexto econômico e cultural. (GOMES 2000, p. 02). 

Todavia, não devemos nos iludir sobre o que foi dissertado anteriormente, nem romantizar os fatos da história. É impossível diminuir a violência, em particular a  violência urbana, com programas de segurança intolerante. Isso não significa que não precisam ser tomadas medidas enérgicas. Não se trata de uma impossibilidade absoluta. Mas, o que não é absolutamente possível é manter a
sociedade sobre essa pressão, sem ser atendidas as suas reivindicações. Neste instante o povo brasileiro vê-se ameaçado por uma guerra civil, entre criminosos e polícia. Isso significa que os privilégios da minoria dominante, contra a maioria submetida têm que ser dividido para todos. Mas, sabemos que isso não é o bastante, faz-se necessário que, aliado a isso, todos os direitos e obrigações sejam respeitados como reza a Constituição da República Federativa do Brasil. É
necessário, pois, analisar detidamente quais as formas particulares de violências para combatê-las eficazmente para guiar o País ao caminho do primeiro mundo. 


Fonte : http://www.iesb.br/ModuloOnline/Atena/arquivos_upload/Manoel%20Gomes.pdf
Org. : Rég!s

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