sábado, 3 de abril de 2010

Senso Comum e Conhecimento Científico TEXTO 1º ANO

Senso Comum e Conhecimento Científico


Vimos que o mito e a filosofia foram formas que o homem encontrou para enfocar, compreender e conhecer sua realidade. Isso ocorria à medida que ele procurava suprir suas necessidades, pois não há conhecimento que se realize fora da relação do homem com o mundo.

Sendo assim, qualquer tipo de conhecimento que o homem possui não é neutro ou desinteressado, mas construído sob uma perspectiva social, política e cultural e, portanto, histórica, ou seja, à medida que o homem se relaciona com os outros homens, ele adquire e constrói entendimentos sobre a realidade que o cerca. Neste processo de construção, o conhecimento que é produto de uma prática que se faz social e historicamente situada pode ser espontâneo ou de senso comum, cientifico e também filosófico.





Senso Comum : No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e atuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “embatuma”, sabem também que a determinados pratos, feitos em banho-maria, devem acrescentar uma gotas de vinagre ou de limão, para que a vasilha de alumínio não fique escura. Como aprenderam essas informações? Elas foram sendo passadas de geração a geração. Elas não só foram assimiladas, mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade.

Assim, se o conhecimento é produto de uma pratica que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenômenos da natureza, etc. passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experimentamos. Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos: tornamo-nos “conformistas de algum conformismo”.

São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo “ouvi dizer”, que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática. Mesmo assim, é uma forma usada pelo homem para tentar resolver seus problemas da vida cotidiana. Isso tudo é denominado de senso comum ou conhecimento espontâneo.

Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência cotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência cientifica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo cotidiano. Portanto, é também um saber ingênuo, uma vez que não possui uma postura crítica.

“Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com critica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando um método, uma critica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos”.

Lara, Tiago Adão. Caminhos da razão no ocidente: a filosofia ocidental, do renascimento aos nossos dias. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1993.

Porém, é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos dos psicólogos e pedagogos são mais bem educados.

O senso comum é ainda subjetivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo:

a. se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor.

Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade;

b. Os hindus consideram a vaca um animal sagrado, enquanto nós, ocidentais, concebemos este animal apenas como um fornecedor de carne, leite, etc. Por essa razão os consideramos ignorantes e ridículos,pois tendemos a julgar os povos que possuem uma cultura diferente da nossa a partir do nosso entendimento valorativo.

Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção critica e coerente, e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como a ciência e a filosofia.



Conhecimento científico



Na unidade anterior, estudamos que a preocupação dos pensadores da Antiguidade Grega era buscar, por meio do uso da razão, a superação do mito ou do saber comum. O avanço na produção do conhecimento conseguido por esses pensadores foi estabelecer vinculo entre ciência e filosofia, que perdurou até o inicio da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos homens tornaram-se mais complexas, bem como toda a forma de produzir sua sobrevivência. Gradativamente, houve um avanço técnico e cientifico, como a utilização da pólvora, a invenção da imprensa, a Física de Newton, a Astronomia de Galileu, etc.

Foi no inicio do século XVII, quando o mundo europeu passava por profundas transformações, que o homem se tornou o centro da natureza (antropocentrismo). Acompanhando o movimento histórico, ele mudou toda a estrutura do pensamento e rompeu com as concepções de Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela igreja, segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel, desde as instituições até o planeta terra. O homem passou então, a ver a natureza como objeto de sua ação e de seu conhecimento, podendo nela interferir. Portanto, podia formular hipóteses e experimentá-las para verificar a sua veracidade, superando assim as explicações metafísicas e teológicas que até então predominavam. O mundo imóvel foi substituído por um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade de leis. Era o nascimento da ciência enquanto um objeto específico de investigação, com um método próprio para controle de produção do conhecimento. Assim sendo, ciência e filosofia se separam.

Portanto, podemos afirmar que o conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade, pois tem apenas trezentos anos. Ele transformou-se numa pratica constante, procurando afastar crenças supersticiosas e ignorâncias, por meio de métodos rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo que garanta prever acontecimentos e agir de forma mais segura.

Sendo assim o que diferencia o senso comum do conhecimento cientifico é o rigor. Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições conservadoras, a ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam teorias que revelem a verdade sobre a realidade, uma vez que a ciência produz o conhecimento a partir da razão.

“Assim, são tarefas básicas para se construir ciência:

definir os termos com precisão, para não deixar margem à ambigüidade: cada conceito deve ter um conteúdo especifico e delimitado; não pode variar durante a analise(...);

descrever e explicar com transparência, não incorrendo em complicações, ou seja, em linguagem hermética, dura, ininteligível(...);

distinguir com rigor facetas diversas, não emaranhar termos, clarear suposições possíveis, fugir à mistura de planos da realidade, não cair em











confusão(...);procurar classificações nítidas, bem sistemáticas de tal sorte que o objeto apareça recortado sem perder muito de sua riqueza;

impor certa ordem no tratamento do tema, de tal modo que seja claro o começo ou o ponto de partida(...)”



Demo, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1995. p. 35.



Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa e torná-la cientifica, deve seguir determinados passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve estar motivado a resolver uma determinada situação-problema que, normalmente, é seguida por algumas hipóteses. Usando sua criatividade, o pesquisador deve observar os fatos, coletar os dados e então testar suas hipóteses que poderão se transformar em leis e posteriormente em teorias que possam explicar e prever fenômenos.

Porem é fundamental registrar que a ciência não é somente acumulação de verdades prontas e acabadas. Nesse caso, estaríamos refletindo sobre cientificismo e não ciência, mas tê-la como um campo sempre aberto às novas concepções e contestações sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência e aceitando, inclusive, no dizer de Karl Popper, que “o que prova que uma teoria é cientifica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada”.

A ciência é, e continua a ser, uma aventura. A verdade da ciência não está unicamente na capitalização das verdades adquiridas, na verificação das teorias conhecidas, mas no caráter aberto da aventura que permite, melhor dizendo, que hoje exige a contestação das suas próprias estruturas de pensamento. Bronovski dizia que o conceito da ciência não é nem absoluto nem eterno. Talvez estejamos num momento critico em que o próprio conceito de ciência se esteja modificando.



Morin, Edgar. Ciência com Consciência. Rio de Janeio: Bertrhand Brasil, 1996. p.16



Atividades



1. Explique a diferença entre senso comum e conhecimento científico.

2. Qual a importância do senso comum e do conhecimento científico para a vida do homem?

3. Pergunte a pelo menos, dois profissionais que trabalham com produção cientifica qual o seu conceito de ciência. Explique o significado de cada conceito a partir das reflexões realizadas em sala de aula.

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